Em entrevista exclusiva à Voz da Rússia, Mariana Gomes conta a repercussão do incidente de que foi vítima Sergey Filin, atingido por ácido na última semana
A bailarina de primeira categoria do Corpo de Baile do Teatro Bolshoi, de Moscou, Mariana Gomes, falou com exclusividade ao programa Voz da Rússia sobre o clima de pesar e apreensão entre os artistas do Bolshoi, após o atentado sofrido pelo diretor artístico do Balé do Teatro, Sergey Filin, que foi atingido no rosto pelo ácido atirado por um homem na última semana.
Mariana Gomes, nascida em Minas Gerais e criada em Salvador, Bahia, foi aluna da Escola do Teatro Bolshoi de Joinville, Santa Catarina, e há sete anos é contratada do Corpo de Baile do Bolshoi de Moscou, dançando como solista e participando de turnês por vários países do mundo, ao lado de alguns dos maiores artistas do balé mundial.
A seguir, a íntegra da entrevista de Mariana Gomes, concedida ao jornalista Arnaldo Risemberg.
Voz da Rússia: Mariana, nós gostaríamos que você falasse sobre Sergey Filin, o diretor artístico do Corpo de Baile do Teatro Bolshoi. Qual a impressão, qual é a imagem que você tem dele?
Mariana Gomes: Eu tenho o maior respeito pelo Sergey. Quando eu comecei a trabalhar, ele era primeiro bailarino, solista. Então, antes de diretor, eu o conheço como artista, como uma pessoa que me ajudou sem mesmo me conhecer quando ele ainda era artista e eu tive um problema com o teatro. Depois disso, quando eu soube que ele ia ser diretor, fiquei superfeliz, porque ele realmente é uma pessoa de coração enorme. Agora, como diretor, eu o admiro mais ainda. Ele sabe conversar com os artistas, sabe como lidar com cada situação. Por várias vezes estive conversando com ele, quando meu pai adoeceu, ele me liberou para ir ao Brasil. Então, ele sempre foi, assim, um grande coração. Hoje mesmo foi nosso dia de folga aqui e houve uma reunião, fomos para uma igreja com o pessoal do Teatro, a mãe dele estava lá... Realmente, a gente está num estado de choque, sem acreditar que isso [o atentado contra Filin] aconteceu, mas está todo mundo tentando ajudar como pode.
VR: O atentado contra Sergey Filin ocorreu na noite de quinta-feira, 17 de janeiro. Ele foi vítima de uma pessoa que saltou de uma motocicleta e atirou ácido em seu rosto, provocando graves queimaduras. Filin ainda está hospitalizado ou já teve alta, Mariana?
MG: Não, ele ainda está hospitalizado, já passou por duas cirurgias... E, segundo a última notícia que eu tive, ele está por enquanto sem visão e só reage à luz.
VR: Então, não há uma previsão de quando ele terá alta hospitalar.
MG: Não, simplesmente não temos nenhuma previsão.
VR: E há alguma notícia sobre quem poderia ser o responsável por esse atentado?
MG: A gente não tem notícia. A gente sabe que muita gente culpa artistas, julga os artistas, mas eu sempre vou acreditar que isso não é possível. Não imagino que uma ambição possa chegar a esse ponto. Uma ambição de funções e de papéis em teatro. Eu acho que pode ser alguma outra coisa, que possa envolver coisas de que a gente não tenha noção.
VR: Você nos disse que no início da semana houve um culto religioso pela recuperação de Sergey Filin. E nós, aqui no Brasil, recebemos informações de que ele provavelmente prosseguirá com seu tratamento médico fora da Rússia. Você tem alguma informação sobre isso, Mariana?
MG: Sim. A família dele tinha comentado sobre a Bélgica, apesar de todos os jornais estarem divulgando Alemanha, mas por enquanto ele não tem condições de viajar por estar ainda no pós-operatório. Só estão esperando a reação dele... E não há nada certo ainda.
VR: E as notícias mais recentes? Os médicos já disseram se a visão dele está comprometida, se há possibilidade de recuperação?
MG: Está comprometida, sim.
VR: Totalmente comprometida?
MG: É, a gente está com esperanças ainda, mas... Está delicado.
VR: Muito delicado o estado dele. E em qual hospital ele se encontra?
MG: Ele está no Hospital 36.
VR: Mariana, você chegou a participar de algum espetáculo com o Sergey Filin?
MG: Claro, de vários. Quando eu cheguei, ele ainda era bailarino. A gente dançou, por exemplo, “Cinderela”, “Lago dos Cisnes”...
VR: E agora, como diretor, ele ainda participava como bailarino ou ficava apenas na direção?
MG: Já estava aposentado como bailarino. Ele trabalhava apenas como diretor, mesmo. A gente conversava bastante, ele me dava papéis... Ele me deu um solo agora há pouco.
VR: De qual balé?
MG: “O Quebra-Nozes”. Foi agora mesmo, no início de janeiro...
VR: Mariana, o que você gostaria de dizer aos brasileiros sobre Sergey Filin e sobre o que os artistas do Bolshoi estão sentindo em relação a esse atentado da semana passada?
MG: Quero deixar a todos a mensagem de como é difícil ser artista, entrar no palco, passar para o público essa energia boa, essa felicidade, quando às vezes, dentro da gente, não é nada disso que está acontecendo. E eu realmente quero acreditar que isso [o atentado] não veio de nenhum artista, que ninguém seria capaz de fazer isso ali dentro, que todo mundo ama o que faz e que, por mais insatisfeito que o artista esteja, ele jamais seria capaz de fazer uma coisa dessas. Eu quero acreditar que isso não é possível. Isso deixa na nossa cabeça muita dúvida... E uma dor enorme... por uma pessoa tão boa, talentosa e carismática. É muito triste. Ele tem dois filhos pequenos, e nessas horas a gente tem que pensar na família e não na profissão.
VR: O que nós sabemos aqui é que ele já vinha sendo alertado de que alguma coisa grave poderia acontecer, mas ele não imaginava que a situação fosse chegar a esse extremo.
MG: Isso.
VR: Mariana Gomes, nós, da equipe da Rádio Voz da Rússia e do site Diário da Rússia, pedimos que você transmita a Sergey Filin e à família desse grande artista a nossa solidariedade. Todos nós aqui estamos unidos pela pronta recuperação do diretor artístico do Corpo de Baile do Teatro Bolshoi de Moscou.
MG: Está bem, muito obrigada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário