Saiu ontem na edição dominical de um dos jornais de maior circulação do estado, que uma certa rede supermercadista paraense, pretende "montar um projeto para estimular a produção de Hortifrutigranjeiros, cujos estoques colocados à venda em suas lojas são originados do nordeste e do sudeste, até bananas e jerimum".
Inclusive esse grupo empresarial pretende expandir seus negócios com mais dez lojas e planejam dobrar seu faturamento até 2016, atingindo a meta de 3 bilhões de reais.
Essa iniciativa é elogiável e torcemos que se logre êxito, mas essa rede empresarial genuinamente paraense atua desde 1975, portanto há 38 anos, e a pergunta que fazemos é: porque somente agora que se vai estimular os nosso produtores locais?
Passaram quase 40 anos enriquecendo produtores/agricultores de outros estados....
Quem tem uma visão um pouco mais "além do alcance" e visita as grandes redes de supermercados em Belém, - todas de origem paraense - verificarão que a grande maioria dos produtos vem de fora do estado, através da Belém-Brasília. A importação é realizada de forma indiscriminada e isso é altamente nocivo pois poderia gerar riqueza se estimulasse os nossos produtores/agricultores, tanto nas cercanias de Belém, (abrangendo inclusive suas ilhas),quanto no interior do Pará.
Como diz o próprio significado da palavra, quando falamos de Hortifrutigranjeiros, estamos falando de pequenos, médios e/ou grandes produtores/agricultores que trabalham e/ou produzem em propriedades rurais, espécies vegetais e animais, seja hortaliças, verduras, frutas diversas, e pequenos animais como frangos e porcos.
Bananas, melancias, melões, abacates, laranjas, tudo vem de agricultores de fora.....isso apenas para citar os exemplos das frutas mais 'tradicionais', e tudo isso pode ser (e em sua maioria é ) produzido no Estado do Pará. Verduras como cenoura, batata, repolho, etc e até os ovos são de granjas de outros estados brasileiros.....
O Resultado disso, é que Belém sempre está entre as primeiras capitais com maior inflação. Aliás, ao longo do ano de 2012 no acumulado foi a 1ª, (entre as 11 capitais pesquisadas), com estratosféricos 8,31%, enquanto a média nacional (que já não é tão baixa) ficou em 5,84% (segundo o IBGE).
Além do custo de vida alto no quesito alimentação, que prejudica sempre os mais pobres, corroendo-lhes os parcos salários, cria-se um sério problema social, pois muitos produtores/agricultores se acaso tivessem sido estimulados e oferecido à eles tecnologias e treinamento para que passassem a serem fornecedores prioritários das grandes redes paraenses, muitos não estariam na pobreza, e teria-se evitado o êxodo do interior para a capital, (com todos os problemas que isso acarreta), além de - como falei no início - gerar emprego e renda em seus locais de origem, dentro do Pará.
Aqui faço uma crítica construtiva às grandes redes paraenses, que muitas vezes são meros 'revendedores de produtos de fora' (não falamos dos industrializados, que são enormes as quantidades importadas), e ao que parece, se importam apenas com o seu lucro, pois muitos deles acham que fazem muito quando falam do número de funcionários que empregam, embora isso seja de fato um benefício que fazem à economia da capital e do estado é, porém, inerente ao seu negócio, pois se não tiverem funcionários, como seus negócios ficarão?
Outra justificativa para dormir em berço esplêndido são os impostos gerados, e Belém é a capital que mais arrecada com impostos oriundos das grandes redes supermercadistas locais, e isso é uma grande vantagem em relação às outras capitais, no entanto, também é consequência do crescimento e da expansão dos negócios, todavia, o que estou tratando aqui é do 'plus', é o chamado 'algo mais', o que, nossas redes por serem daqui tinham obrigação de fazer, não só no tocante ao estímulo aos Hortifrutigranjeiros, mas também na industrialização dos produtos locais, na produção de fármacos se utilizando de nossas plantas em parceria com universidades e cientistas locais, ampliando a questão da reciclagem (e não somente fazendo iniciativas tímidas e infrutíferas) e assim realizando um grande pólo gerador não só de emprego e renda, (que tanto precisamos), mas também de consciência ambiental, afinal, estamos na Amazônia, a região com maior biodiversidade do mundo.
Em um estado que é rico mas é tratado como Colônia pelo Governo Federal, que não devolve o que lhe é devido pela enorme contribuição que nós damos na Balança Comercial Brasileira, onde somente no ano passado contribuímos com US$ 19,4 Bilhões, ou seja, praticamente 60% do Superávit comercial dela, (e recebemos somente migalhas em troca, que não dão para desenvolver nada), os empresários locais do setor supermercadistas e suas demais empresas satélites poderiam suprir essas perdas irreparáveis com iniciativas de diversificação de negócios baseadas em nosso estado e se utilizando de nossas riquezas e mão-de-obra, como sugeridas acima, mas se tivessem um visão conjuntural mais ampla, se assumissem seus papéis em um contexto geral, e saíssem da zona de conforto e da mesmice de serem meros 'revendedores de fora', aí sim, fariam o 'algo mais' a que me referi.Eu iria além, fariam toda a diferença!
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