Análise do Instituto Teotônio Vilela
De apagão em apagão, o país vai
vivendo na escuridão. Poderia ser só uma rima paupérrima, mas se tornou rotina
no Brasil: as quedas de energia têm sido cada vez mais frequentes, cada vez
mais prolongadas e têm prejudicado cada vez mais pessoas.
Nesta madrugada, mais uma vez, um apagão atingiu todo o Nordeste e parte
das regiões Norte e Centro-Oeste do país. Ficaram no escuro Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe,
além de porções de Pará, Tocantins e Distrito Federal.
A população destas regiões ficou cerca de quatro horas na escuridão.
Mais de 50 milhões de pessoas podem ter sido atingidas, já que o apagão não se
limitou a áreas isoladas: foi uma escuridão completa, maciça, disseminada. Nos
estados de Pernambuco, Bahia e Paraíba, por exemplo, todos os municípios
ficaram às escuras.
Este foi o quarto apagão ocorrido no país desde setembro, numa triste rotina
que se acentuou no governo Dilma. Em 22 de setembro, oito dos nove estados
nordestinos já haviam ficado sem luz. No início do mês, a falta de energia
afetara Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre e Rondônia, além de parte da
região Centro-Oeste. É escuridão de norte a sul.
A situação é bem distinta do que a presidente Dilma Rousseff e seus
assessores gostariam que fossem simples “apaguinhos”, como um deles se referiu
à ocorrência de 3 de outubro. A gestão petista pode até ser boa para fabricar
eufemismos, mas é bastante ruim para solucionar problemas.
Na realidade, as condições do parque elétrico nacional vêm se
deteriorando há alguns anos. É consenso entre especialistas que falta
manutenção no sistema, que é gigantesco e muito sujeito a riscos. Mas faltam
também investimentos em modernização e expansão.
Desde setembro, ocorreu em média um corte de energia a cada dois dias no
país. Ao longo de 2012, até o último dia 15, haviam sido registradas 63
ocorrências. No ano passado, foram 97 cortes, com alta de quase 30% em relação
a 2007, informou O Estado de S.Paulo há uma semana.
Em cada um dos últimos três anos, o país ficou mais de 18 horas sem
energia. É bem mais que o limite estabelecido pela Agência Nacional de Energia
Elétrica, que é de 16,23 horas, revelou O Globo.
O problema é generalizado. De acordo com a Aneel, pelo menos 15 das 33
distribuidoras de grande porte extrapolaram as metas contratuais de cortes no
ano passado. “O pior caso é o da Celpa, no Pará, que registrou 99,5 horas de
cortes no fornecimento”, segundo o Valor Econômico.
Nesta manhã, diante de mais um apagão cujas explicações não convencem –
desta vez, a razão da queda generalizada de energia em 12 estados teria sido um
incêndio em um equipamento localizado entre duas subestações – o diretor-geral
do Operador Nacional do Sistema Elétrico admitiu: “Dizer que não vai ter [novo
apagão] é impossível”.
É justamente o contrário do que Dilma Rousseff vem afirmando em
diferentes ocasiões – para ser mais preciso, a cada vez que um novo apagão a
desmente. Com a autoridade de quem esteve à frente do Ministério de Minas e
Energia e acompanhou com mão de ferro as ações da pasta desde então, seja na
Casa Civil, seja já como presidente da República, ela parece não ter ideia do
que está falando ou fazendo.
O país está encurralado pelos apagões e também refém da geração de
energia por termelétricas, mais caras e poluentes. Sem conseguir gerar energia
suficiente em suas hidrelétricas por causa da estiagem, a partir deste sábado
todas as usinas movidas a óleo combustível e a diesel disponíveis no sistema
elétrico nacional entrarão em operação ao mesmo tempo, a fim de tentar
recuperar o volume de água dos reservatórios, destaca hoje o Estadão.
Mais preocupante é que, com toda esta fragilidade evidenciada, a
presidente Dilma lançou-se agora numa cruzada que está desorganizando o setor
elétrico e pondo em risco bilhões de reais em investimentos que, efetivamente,
poderiam livrar o país da escuridão. Num setor em que as ações se planejam com
décadas de antecedência, com a insegurança que se abateu sobre as concessões de
energia ninguém sabe ao certo se haverá luz amanhã.
Lula disse
recentemente que “de poste em poste o PT está iluminando o Brasil”, numa
referência a candidatos inexperientes e incapazes que, com sua lábia, ele tem
ajudado a eleger por aí afora. Quando se observa o que está acontecendo de
verdade no país, mais adequado é dizer que, de apagão em apagão, o PT está
escurecendo o país.
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