Demetrio Magnoli elaborou um artigo em que foi extremamente tendencioso e ignorando fatos na crise na Ucrânia
Por Thomas de Toledo*
Em artigo publicado no site da Folha de São Paulo em 15/03/2014, intitulado “O mundo de Putin”, o comentarista da Globo, Demétrio Magnoli, aparenta viver em seu próprio mundo. No mundo que acredita existir, o “Ocidente” é um padrão ilibado de moral e promotor altruístico da liberdade, da democracia e dos direitos humanos, sem possuir interesses geopolíticos. Mas a “civilização ocidental” que alcançou o “fim da história”, infelizmente sempre tem que lidar com párias. No caso do artigo citado, o problema é a Rússia e sua reação à crise na Ucrânia.
Segundo o comentarista, o chefe do Kremlin acredita que o “ocidente entrega-se noite e dia a conspirar contra a Rússia”. O que teria Demétrio a comentar sobre o escudo antimísseis de Bush e Obama, que vai sendo construído cercando a Rússia? Seria uma abstração imaginar que as centenas de bases militares da OTAN no Leste Europeu, no Oriente Médio, na Ásia Central e no Sudeste Asiático, todas ao redor a Rússia, possam oferecer algum perigo real ao país? O que diria da expansão da OTAN, que ameaça chegar às fronteiras ocidentais russas com a Ucrânia e a Geórgia?
No mundo "real" de Magnoli, a Rússia deveria colaborar com a União Europeia para estabilizar a Ucrânia e assim se livraria de seu fardo imperial. Insinua que o ocorrido neste país foi uma insurgência revolucionária. Talvez o comentarista desconheça que ao longo de toda Guerra Fria e ainda hoje, os Estados Unidos operam golpes para atender a seus interesses econômicos e geopolíticos. Parece que a gravação de uma conversa da embaixadora dos Estados Unidos, dizendo terem investido US$ 5 bilhões nesta operação na Ucrânia, nunca existiu. Ora, se já está mais do que reconhecido que os Estados Unidos e a União Europeia financiaram grupos políticos e meios de comunicação ucranianos, de quem seriam, portanto, os delírios imperiais?
Mas tem mais novidades no mundo de Magnoli. Ao afirmar que o presidente russo enxergou fantasmas das forças invasoras da Alemanha da Nazista, será que Magnoli não sabe que partidos nazifascistas como o Svoboda e o Setor à Direta estão agora controlando o poder na Ucrânia? Por acaso, tomou conhecimento de que gangues armadas estilo SS têm cometido ataques a judeus, ciganos, russos, imigrantes e a todas as “raças” odiosas listadas por Hitler? Saberia Demétrio que partidos de esquerda foram banidos do parlamento, suas sedes destruídas e seus membros estão sendo perseguidos pelo atual regime, nos moldes do III Reich?
Talvez Putin realmente não tivesse que se preocupar ao ver o parlamento do regime golpista votando pelo fim da língua russa como o segundo idioma da Ucrânia, da mesma forma que deveria assistir calado a gangues neonazistas perseguirem cidadãos russos no país. Será mesmo, Demétrio Magnoli? Será que a Rússia deveria se calar perante um plebiscito no qual 97% dos eleitores da Crimeia optaram por se unir à Federação? Ou aceitar viver sob a ameaça de um governo ucraniano racista, extremista e autoritário?
Assim, Magnoli mostra aos leitores o seu exemplar mundo “Ocidental”, conforme a mídia estadunidense e europeia relatam e suas amestradas filhotas brasileiras assumem como fato. Um mundo no qual os Estados Unidos e a União Europeia bombardeiam, invadem e ocupam a Iugoslávia, o Afeganistão, o Iraque e a Líbia para levarem a liberdade, a democracia e defenderem os direitos humanos. Neste mundo de Demétrio, o que ameaça a paz mundial não é a sanha imperialista dos países da OTAN pelo controle de rotas comerciais, poços de petróleos, jazidas de gás e recursos naturais, à custa de guerras e Golpes de Estados. O que a ameaça o mundo é o “czarismo imperial” de Putin ao assegurar aos russos o direito à vida e à cultura em uma Ucrânia onde pela primeira vez após a II Guerra Mundial, o nazifascimo retorna ao poder.
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