Um sinal dessa mancha esquecida na riqueza da borracha é a falta de informações, os raros registros e nenhuma foto ( a mostrada nesta postagem é de cafetões em Buenos Aires).
A desconhecida história de exploração
sexual, escravidão branca e marginalidade na Belém do início do século XX. Um
capítulo que a história oficial teima em esquecer. A surpreendente história das
prostitutas judias conhecidas como as “polacas” na Belém do Belle Epoque.
Uma Europa em crise e um negócio, lucrativo para quadrilhas que
se disfarçavam de Sociedades Beneficentes. Rapazes de boa aparência, sempre
acompanhados por senhores mais velhos ou uma tia, buscavam na miséria das
fazendas, esposas judias, para juntos construírem uma vida nova na América do
Sul, narrando o sucesso que já haviam conquistado no novo continente.
Era um golpe. Separadas das famílias, eram colocadas na
prostituição. Primeiro Buenos Aires, depois Rio e São Paulo e em seguida Belém
e Manaus. A riqueza da borracha provocou uma migração em larga escala para
Belém em Manaus, que receberam de braços abertos “as mulheres de portas
abertas” como eram conhecidas.
Generalizadas como “polacas” vieram de vários paises europeu.
Olhos claros, pele branca, e falando outra língua, eram vendidas como
francesas, imposição do modelo parisiense do belle époque. Eram lendários os
serões embriagantes e a vida noturna de clubes noturnos como High Life e Moulin
Rouge, o mais famoso de uma Belém, que dobrou de tamanho entre 1890 e 1900. Em
1908 , estavam catalogadas aqui 471 tabernas e 17 botequins, ou pequenos bares.
Enquanto no Teatro da Paz, exibiam-se operetas e música clássica, neste
submundo eram cantoras seminuas nos cafés que animavam a capital .
Em 1887 a revista “Semana Ilustrada”, anunciava que muitos
maridos pararam de dormir em casa e que perderam seus empregos como
conseqüência de sua perseguição a integrantes de uma companhia espanhola de
dança, alegando estarem participando de um leilão por seu favores. Em 1910, 120
cafetões acabaram exilados em Belém após um motim naval, o que reforçou o
negócio da prostituição. A cocote francesa, no entanto, era como se a estátua
de Marianne na praça principal de Belém, a Praça da República tivesse tomado
vida. Eram pensões no quadrilátero da Campina que incluíam a Padre Prudêncio, a
1º de março que reinavam na noite de Belém.
Sem falar a língua, com a dívida crescente junto ao cafetão,
isolada por uma sociedade que sequer discutia o tema, muitas morriam com o
abandono e doenças. Até alguns anos, era possível encontrar testemunhos que
narravam o choro e os lamentos dessas escravas brancas, que nunca conseguiram
quitar as dívidas e rever a família.
Poucas conquistavam o casamento com antigos clientes, trocavam de nome e deram origem a gerações, que hoje, sequer sabem desta história. Se soubessem, fariam questão de esquecer.
Um sinal dessa mancha esquecida na riqueza da borracha é a falta de informações, os raros registros e nenhuma foto ( a mostrada nesta postagem é de cafetões em Buenos Aires)..
Fonte:
As Mulheres das Portas Abertas: judias no submundo da Belle Époque amazônica,
1890- 1920- Thomas T. Orum- Veja mais em http://www3.ufpa.br/ifch/Thomas_Orum_1.pdf
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