DEVENDO R$ 400 MIL à CBF, REMO PREPARA HOMENAGEM A RICARDO TEIXEIRA
Por Bruno Bonsanti*
Na contramão das denúncias de corrupção, manifestações populares e protestos de torcidas organizadas, o Remo-PA planeja uma homenagem ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, na segunda partida do Superclássico das Américas, entre a Seleção Brasileira e a Argentina, no estádio Mangueirão, na próxima quarta-feira.
O presidente do clube, Sérgio Cabeça, argumenta que Teixeira sempre ajuda o futebol da região. Isso é verdade. Na gestão de Amaro Klautau, anterior à atual, a CBF emprestou R$ 400 mil ao Remo, que cedeu o dinheiro dos direitos televisivos do Campeonato Paraense como garantia, mas nunca pagou a dívida.
"Ele é uma pessoa que tem, não só pelo Pará, mas pelo futebol do Brasil, feito bastante coisa boa. O Brasil já ganhou títulos com ele à frente da CBF. Vamos fazer uma homenagem a ele por tudo que tem feito pelo esporte na região", explicou Cabeça à reportagem da GE.Net. Teixeira está desde 1989 à frente da entidade. Nesse período, a Seleção ganhou as Copas do Mundo de 1994 e 2002.
Sergio Barzaghi
Desde 1989 na CBF, Ricardo Teixeira está garantido até 2014 por causa da Copa do Mundo do Brasil
Avalista do empréstimo, o presidente da Federação Paraense de Futebol, Antonio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, conta que o pedido foi inicialmente de R$ 1 milhão, mas apenas a primeira parcela foi liberada. A homenagem tem o objetivo de manter o Remo nas boas graças da Confederação. "É para mostrar o lado bom do Clube do Remo. A diretoria atual não tem culpa do que a outra não cumpriu. A CBF ajudou e não cobrou nada, nem juros, não mandou bloquear nada. É na esperança futura de que a CBF continue dando atenção ao Remo", reforçou.
Sérgio Cabeça, atual presidente do Remo, fará homenagem à Ricardo Teixeira no superclássico das Américas, em retribuição a empréstimo de 400 mil feito na gestão do polêmico ex-presidente Amaro Klautau.
Cabeça não se preocupa em ficar queimado com a torcida. Este ano, houve manifestações populares nas ruas de capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre contra Teixeira, além de uma revolta coletiva da Confederação Nacional das Torcidas Organizadas na última rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Um grupo de insatisfeitos anônimos criou o site FORA Ricardo Teixeira e organizou uma onda de mensagens no Twitter, conseguindo levar frases como "Fora Ricardo Teixeira" aos tópicos mais comentados do mundo. "Estamos em um regime democrático e podemos externar o que pensamos. Eles pensam desta maneira e estão exercendo a democracia", ponderou o dirigente do Remo.
Embora também analise fazer a sua própria homenagem, o presidente do Paysandu, Luiz Omar Pinheiro, não está tão satisfeito com as boas ações de Teixeira. Ele é mais um a pleitear ajuda financeira junto à CBF e reclama que a entidade com lucro de R$ 83 milhões em 2010 precisaria investir apenas R$ 5 milhões para financiar toda a Série C do Campeonato Brasileiro.
Luis Omar Pinheiro, presidente do Paysandu, questiona o fato de a CBF ter Lucros exorbitantes, e relegar clubes tradicionais que estão na série C e D ao abandono.
"Estamos aqui, no Norte, 'fumados', a pão e água. Gastamos R$ 60 mil para jogar em Rio Branco-AC. Não recebemos nem uma bola. Ninguém ajuda. Com passagens aéreas e hospedagens, a Série C não custa nem R$ 5 milhões e dizem que não têm dinheiro para ajudar. Isso é desumanidade. O futebol forte não pode ser só o das Séries A e B. As Federações e a CBF deveriam olhar com mais carinho para a C", declarou.
O presidente ainda dirigiu as suas críticas aos clubes da primeira divisão, como Corinthians e Flamengo, e ao mandatário do Clube dos 13, Fábio Koff. Além disso, reclamou bastante da imprensa. "Estão matando a gente e os jornalistas também. O segmento esportivo tem culpa da atual situação do Brasil. As grandes emissoras de televisão não dão nem resultado das Séries C e D. Preferem passar o Big Brother caindo de paraquedas em Copacabana a um gol da Série C. Esquecem que tem clubes que estão nessa situação, mas são importantes para a sua região", disparou Omar Pinheiro.
Coronel Nunes não gostou de ser envolvido nas reclamações do seu colega, pois garante que a Federação faz de tudo para ajudar seus filiados. Torcedor do Paysandu, ele não cobra nenhum clube por trabalhos burocráticos, como registro de jogadores. "O cara dizer que é desamparado pela Federação? À p... que o pariu! Deve ter sido força de expressão. Eu não tenho patrocínio de nada, a Federação é pobre. Vou amparar ele em quê?", indagou.
Saiba como Ricardo Teixeira angaria votos para se perpetuar no poder
Os presidentes dos clubes elegem mandatários de Federações locais, que votam no presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Desde 1989 no poder, Ricardo Teixeira utiliza diversas práticas para manter seus eleitores felizes e garantir múltiplas reeleições. Veja oito delas:
Empréstimo aos clubes - O Paysandu não foi o único e nem o primeiro a ser ajudado financeiramente pela CBF. Embora negue que haja relação, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, recebeu, em 2010, R$ 8 milhões de adiantamento de futuras cotas de televisão - na mesma época em que mudou de lado na votação para presidente do Clube dos 13 e passou a apoiar Kléber Leite, candidato de Ricardo Teixeira.
Lobby político - Apesar de ter passado por duas Comissões de Inquérito Parlamentar (CPIs) no começo da década, Ricardo Teixeira tem influência em Brasília. O deputado Anthony Garotinho tentou instaurar outra CPI neste ano e conseguiu 117 das 171 assinaturas necessárias. Após uma visita do presidente da CBF à Câmara dos Deputados, a Comissão foi esvaziada e o ex-governador do Rio de Janeiro desistiu. Ele também mantinha uma boa relação com o ex-chefe da República, Luis Inácio Lula da Silva.
Pressão na Rede Globo - Sabedor da influência da Rede Globo, Teixeira mantém uma relação de troca de favores. Em recente entrevista à revista Piauí, ele disse que só ficaria preocupado com as denúncias de corrupção da emissora britânica BBC se elas repercutissem no Jornal Nacional.
Em 2001, durante a CPI da Nike, ele ficou descontente com uma matéria do Globo Repórter e transferiu um clássico entre Brasil e Argentina para as 19h45, impossibilitando a transmissão da emissora carioca. Neste ano, a Globo veiculou uma matéria apontando irregularidades na organização do amistoso contra Portugal, em 2008. Pouco depois, os jogos das 18h30 do Campeonato Brasileiro foram adiantados em meia hora, começando antes do término da rodada da segunda divisão aos sábados. O canal fechado da emissora, o SporTV, costumava transmitir os dois torneios. A mudança de horário também alterou a programação em pay-per-view.
Adiamento de jogos - Como o Campeonato Brasileiro não é paralisado durante datas Fifa para jogos de seleções, alguns clubes acabam prejudicados quando seus jogadores são convocados. Para manter seus aliados contentes, Ricardo Teixeira aprova o adiamento de partidas. O Santos disputaria rodadas da competição deste ano sem Neymar e Paulo Henrique Ganso, por exemplo, e quatro duelos foram postergados: contra América-MG, Fluminense, Grêmio e Botafogo. O clássico com o Corinthians mudou de dia por causa da final da Copa Libertadores da América.
Seleção Brasileira - O sucesso esportivo, como as duas Copas do Mundo conquistadas, em 1994 e 2002, também ajuda o presidente a se manter no poder. Além disso, levar a Seleção Brasileira para jogar em estádios modestos, como em Campo Grande (2009) ou em Gama (2008), agrada às Federações locais.
Represália a opositores - Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, é um de seus rivais. Na eleição do Clube dos 13, o são-paulino apoiou a reeleição de Fábio Koff, contra o candidato de Teixeira, Kléber Leite. No dia seguinte, surgiram as primeiras informações de que o Estádio do Morumbi não abrigaria jogos da Copa do Mundo de 2014. O também presidente do Comitê Organizador Local (COL) confirmou o veto, em junho de 2010, no site da CBF.
Reconhecimento de títulos - Santos, Cruzeiro e Botafogo votaram no candidato da CBF na eleição do Clube dos 13, em 2010. No final daquele ano, foram presenteados com o reconhecimento da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa como títulos do Campeonato Brasileiro. Os clubes mineiro e carioca ganharam uma conquista, enquanto o paulista foi de dois troféus para oito. No começo do ano, a entidade resolveu oficializar o Flamengo como campeão de 1987, mas voltou atrás depois devido à decisão judicial.
Inchaço de campeonatos - Como depende dos votos dos presidentes das Federações estaduais para se reeleger, Teixeira atribui poder quando aumenta a importância e o tamanho dos Campeonatos Estaduais. Além disso, infla a Copa do Brasil com clubes menores - prática parecida à do partido da ditadura, a Arena, que cedia lugares no Campeonato Brasileiro a times de regiões onde não tinha muitos votos. O torneio nacional chegou a ter 94 participantes em 1979.
* Bruno Bonsanti, especial para a GE.Net São Paulo (SP)
Levi Bianco/News Free/Gazeta Press
Cerca de 400 pessoas foram ao vão do Masp, em São Paulo, para protestar. Aconteceu o mesmo em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro, inclusive no sorteio do grupo das Eliminatórias da Copa de 2014
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