A foto de Dida Sampaio é mais que o registro do momento em que Dilma Rousseff, presidente da República há quase dois anos, cumprimentou o ministro Joaquim Barbosa, que acabara de assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal. A imagem documenta a colisão frontal, estridentemente silenciosa, entre sentimentos antagônicos.
O chefe do Poder Judiciário está feliz. A chefe do Poder Executivo está contrafeita, nas fímbrias da amargura. Joaquim Barbosa é o anfitrião de uma festa. Dilma Rousseff é a conviva involuntária que nada tem a festejar. Ele se sente em casa e pensa no que fará. Ela pensa no que ele anda fazendo e se sente obrigada a enviar um recado fisionômico aos condenados no julgamento do mensalão: se pudesse, estaria longe dali.
Só ele sorri. O sorriso contido informa que o ministro não é homem de exuberâncias e derramamentos. Mas é um sorriso. Os músculos faciais se distenderam, os dentes estão expostos, o movimento da pálpebra escava rugas nas cercanias do olho esquerdo. O que se vê no rosto da presidente é um esgar. A musculatura contraída multiplica os vincos na face direita, junta os lábios num bico assimetricamente pronunciado e desvia o olhar do homem à sua frente.
O descompasso das almas é sublinhado pelas mãos que não se apertam. A dele ao menos se abre. A dela, nem isso. Dilma apenas toca Joaquim com a metade dos quatro dedos. Ele cumprimenta como quem chegou. Ela cumprimenta como quem não vê a hora de partir.
Conjugados, tais detalhes sugerem que, se Joaquim Barbosa sabe que chefia um dos três Poderes independentes, Dilma Rousseff imagina chefiar um Poder que dá ordens aos outros. O julgamento do mensalão já deixou claro que não é assim. A maioria dos ministros é imune a esgares. Os que temem carrancas nem precisam disso para atender aos interesses do governo. Não são juízes. São companheiros.
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